ATOS DE CONTROLE, CENSURA E REGULAÇÃO NA LITERATURA INFANTIL E A PRÁTICA DOCENTE: vozes de professoras da Educação Infantil de Belo Horizonte
Esta pesquisa tem como objetivo compreender a relação entre casos de controle, (regulação e censura) combinados às práticas de seleção e de mediação de leitura livros de literatura desenvolvidas por professoras da Educação Infantil de Belo Horizonte. A circulação cada vez mais rápida de informações, por meios digitais, juntamente à chegada da chamada “onda conservadora”, entre outros fatores, vêm dando destaque, nas diferentes mídias, a avaliações de livros infantis. Nessas avaliações, são enfatizados os pretensos efeitos dos textos literários na conformação do caráter e dos comportamentos infantis. Nesta pesquisa propomos mapear casos de controle ou de cerceamento de livros de literatura infantil no Brasil; identificar as concepções de criança e de literatura que subjazem os depoimentos de professoras acerca das suas práticas como docentes da Educação Infantil; analisar suas percepções em relação a atos de cerceamento do acesso de crianças a livros infantis e os possíveis impactos destes atos em processos de seleção de livros. Trata-se de uma pesquisa de caráter qualitativo, realizada em três eixos: análise de registros em documentos encontrados na hemeroteca digital, em trabalhos acadêmicos e documentos afins, que comprovam o controle a livros infantis ao longo dos anos; aplicação de formulário para conhecer o perfil das professoras participantes da pesquisa e realização de entrevistas coletivas com essas profissionais que atuam em escolas de Educação Infantil das redes particular e pública de Belo Horizonte. São analisados casos de controle a livros destinados ao público infantil no Brasil, datados de 1850 a 2021 e as entrevistas semiestruturadas. A análise dos dados coletados por meio dos documentos encontrados evidenciou que a censura subestima a infância ao menosprezar as capacidades de compreensão e interpretação das crianças. Quanto aos depoimentos das professoras observou-se que o cerceamento encontra ressonância no tradicionalismo presente na sociedade brasileira, o que influencia a seleção dos livros e a prática de leitura das professoras da Educação Infantil.
O PNAIC, PRÉ-ESCOLA E A FORMAÇÃO DE PROFESSORAS E DE CRIANÇAS COMO LEITORAS DE LITERATURA
Este trabalho objetivou analisar, sob a ótica das profissionais participantes da ação de formação coordenada pela Universidade do Estado de Minas Gerais, a influência do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa Pré-escola na sua formação como leitoras de literatura e nas suas práticas pedagógicas voltadas à formação das crianças como leitoras de literatura. Para alcançar esse objetivo, buscou-se descrever o contexto de formação, a partir da análise de documentos expedidos pelas instâncias federal, estadual e local; caracterizar a formação no Estado de Minas Gerais, nos municípios coordenados pela Universidade, quanto a sua abrangência em relação ao público atingido; analisar como as cursistas avaliaram a adequação e o potencial do material adotado no curso; evidenciar a percepção das professoras quanto à incidência das ações na sua formação como leitoras de literatura e como mediadoras e promotoras de leitura literária junto às crianças. Empregou-se abordagem qualitativa e utilizou-se, como instrumentos para produção de dados, a análise documental, o levantamento dos quantitativos e a aplicação de questionário que teve como base os pressupostos do material adotado na formação, a Coleção Leitura e Escrita na Educação Infantil. Os resultados mostraram que as respondentes consideraram que o Pacto para a Pré-escola incidiu na sua formação como leitoras de literatura. Quanto à importância do Pacto na formação do pequeno leitor, as respondentes apontaram tanto elementos que se aproximavam das concepções expressas no material que guiou a formação quanto aspectos que, ao contrário, se afastavam daquilo que o material de formação propugnava como sendo adequado de ser desenvolvido junto às crianças. Quando indagadas acerca da influência da formação em suas práticas pedagógicas, prevaleceu a noção de que o curso serviu como aprimoramento e não como elemento de mudança ou de substituição de práticas. Percebe-se, assim, que a formação gerou impacto parcial em suas práticas. Apesar de elas possuírem boas condições de trabalho, terem um grau adequado de formação e terem participado da formação, elas não demonstraram ter se apropriado de conhecimentos basilares para garantir uma boa mediação. Quanto à adequação do material destinado à formação, percebeu-se que todos os Cadernos marcaram a trajetória das respondentes. Ressaltamos, entretanto, que o Caderno 7, material que dialoga diretamente com as questões voltadas à composição dos acervos, à estruturação dos espaços de leitura e à mediação literária foi o que menos deixou marcas. A pesquisa nos indicou que, apesar dos desafios, incoerências e tensões que foram enfrentadas, o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa Pré-escola carrega os princípios fundamentais para uma adequada política de desenvolvimento profissional. Ele foi uma iniciativa relevante, embora, por suas condições de implantação, não tenha sido suficiente para cumprir o objetivo a que se propôs.
LIVRO ILUSTRADO E A PRIMEIRA INFÂNCIA: leituras que excedem palavras
Os livros ilustrados, cada vez mais frequentes no mercado editorial brasileiro, são obras complexas, cujo conceito ainda se encontra em processo de formulação. Esta pesquisa, ao evidenciar o livro ilustrado na produção literária para a infância, analisa obras premiadas pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil – FNLIJ, entre 1975 e 2020. Pretendeu-se investigar as possíveis transformações ocorridas na função da ilustração, sua articulação com o texto verbal e o suporte, de forma a caracterizar o processo de constituição do livro ilustrado brasileiro. A partir do percurso histórico da literatura infantil no ocidente, discutem-se as especificidades do livro ilustrado, considerando-o como objeto artístico. As contribuições teóricas de Michel Melot (2015), Odilon Moraes (2019), Sophie Van der Linden (2011), Martin Salisbury e Morag Styles (2012), Rui de Oliveira (2008b) e Maria Nikolajeva e Carole Scott (2011) apoiaram as análises e conclusões do trabalho. A metodologia consistiu na análise dos livros premiados nas categorias Criança, Livro de Imagem, Melhor Ilustração e Livro Brinquedo. O exame dos dados permitiu organizar o acervo em sete categorias principais: 1º) Texto e imagens: espaços em disputa; 2º) O silêncio da palavra e a imagem narrativa; 3º) O design da palavra; 4º) Materialidade e narrativa; 5º) Metaficção e intertextualidade; 6º) O Brasil expresso na visualidade e 7º) Autoria: referências e paradigmas. Observaram-se pontos de aproximação entre as obras, nas quatro dimensões do espaço-tempo: linha, página, livro e tempo (ALENCAR e COELHO, 2016). O percurso desta pesquisa reforça a complexidade e a potencialidade dos livros ilustrados e indica que esse modo de narrar é predominante nas premiações mais recentes da FNLIJ, nas categorias analisadas. A trajetória de premiações nos revela, também, que, mesmo antes do uso do termo “livro ilustrado” no Brasil, é possível observar um processo de ascensão da imagem, aliado à exploração do livro como objeto. O recurso pedagógico que integra esta pesquisa, em formato e-book, aborda a temática da formação leitora, da mediação literária e dos elementos narrativos que constituem os livros ilustrados, estabelecendo um diálogo da pesquisa com a ação docente, em especial, aquelas desenvolvidas no âmbito da Educação Infantil.
BIBLIOTECA NA EMEI: afeto, memória e mediação
Este estudo tem como objetivo analisar a qualidade da biblioteca, considerada como um ambiente de aprendizagem, em uma instituição educativa que atende crianças menores de seis anos, na comunidade da Pedreira Prado Lopes, em Belo Horizonte/MG. Para a análise, tomaram-se como referência documentos oficiais nacionais e textos normativos do Sistema Municipal de Ensino de Belo Horizonte, relacionando as características dos ambientes educativos pesquisados com as concepções expressas nos documentos oficiais. Além dos documentos oficiais, apoiam a análise dos dados autores que discutem o tema da qualidade na Educação Infantil, tais como Zabalza (1998) e Dahlberg, Moss e Pence (2003); autores que estudam os ambientes de aprendizagem nessa etapa educativa, tais como Forneiro (1998) e Horn (2004), e também autores que abordam a temática sobre o direito à literatura na infância, como Perrotti (1990; 2015). A metodologia baseia-se em abordagens qualitativas de pesquisa, especialmente o estudo de caso e a pesquisa colaborativa. Nos resultados, são apresentados e analisados os dados obtidos através da aplicação de questionário respondido pela equipe de docentes e pelas gestoras da escola, além das observações e registros colhidos sobre a biblioteca. Também são apresentadas as modificações feitas na biblioteca escolar a partir de diálogo colaborativo com as professoras e gestoras da escola municipal pesquisada. O Plano de Ação para a reestruturação da biblioteca será registrado em um e-book com o objetivo de divulgar, para outras escolas, o processo vivenciado na instituição participante da pesquisa e apoiar novas propostas de reestruturação de bibliotecas das Escolas Municipais de Educação
Infantil de Belo Horizonte.
IMPLEMENTAÇÃO DE BEBETECAS MUNICIPAIS: um guia para gestores comprometidos com a formação de crianças leitoras
Esta pesquisa visou conhecer e avaliar as condições materiais e pedagógicas das bibliotecas escolares existentes nas instituições de Educação Infantil, destinadas às crianças na faixa etária de 0 a 6 anos, no município de Guanhães–MG. Considerando o acesso à literatura como um direito de todas as crianças, o estudo foi realizado em 8 instituições de Educação Infantil da Rede Municipal de Educação de Guanhães–MG, todas situadas na sede do município. Foram tomados como aportes da investigação documentos oficiais do sistema educacional brasileiro e parâmetros que orientam o funcionamento das bibliotecas escolares na Educação Infantil, presentes nos referenciais nacionais, foram tomados como base da análise das diretrizes educacionais municipais e ambos os referenciais balizaram a análise da realidade encontrada nas instituições de Educação Infantil pesquisadas. Ademais, apoiam a análise dos dados, estudos que discutem o tema da biblioteca escolar, tais como, Leite (2004) e Bernadete Campello et al. (2012); pesquisadores que estudam as especificidades das bibliotecas para os bebês e as crianças pequenas, isto é, as bebetecas, tais como: Mercês Escardò i Bas (1994); Renata Souza e Juliane Motoyama (2016); Mônica Baptista et al. (2016) e também autores que abordam a temática da criança, como Sarmento (1997) e o direito à literatura, a exemplo de Cândido (2011). A pesquisa é qualitativa e se caracteriza como um estudo de caso. A coleta de dados foi efetivada por meio da aplicação de questionário, entrevista semiestruturada e observação participante. Os achados da pesquisa apontaram ser recente o reconhecimento por parte do Estado brasileiro da relevância das bibliotecas escolares para a formação integral de cada cidadão brasileiro, sendo a Lei Federal n.º 12.244/2010, alterada pela Lei n.º 14.837/2024, a normativa legal que tornou obrigatória a presença de bibliotecas em todas as unidades educacionais do país. Ficou evidenciado que as bebetecas: bibliotecas para bebês e crianças menores de 6 anos, são espaços de ser e estar que acolhem a população da primeira infância, atendendo às especificidades desse público durante o uso social de uma biblioteca. Não obstante, os resultados da pesquisa demonstraram rara a existência de espaços com tais características nas escolas de Educação Infantil do país e no município de Guanhães-MG. Nesse sentido, após a realização desta pesquisa, foi elaborado o guia prático, Implementação de Bebetecas municipais: um guia para gestores comprometidos com a formação de crianças leitoras, norteado por considerações sobre as bibliotecas para a primeira infância, visando apoiar novas propostas de reestruturação de bibliotecas de Escolas de Educação Infantil.
CADERNO DE CONVERSA: DE PROFESSORA PARA PROFESSORA – O que dizem as professoras da EMEI Rosinha sobre as reverberações do curso Leitura e Escrita na Educação Infantil?
O objetivo geral desta pesquisa foi investigar como as professoras de uma escola de Educação Infantil de Belo Horizonte, MG, egressas do Curso Leitura e Escrita na Educação Infantil – edição 2021-2022, avaliavam as reverberações desse curso nas suas práticas pedagógicas voltadas para a ampliação das experiências das crianças com as linguagens oral e escrita. Para tanto, realizou-se um estudo de caso com aplicação de questionário on-line e entrevistas semiestruturadas em pequenos grupos. A fundamentação teórica baseou-se no material didático do curso, a Coleção Leitura e Escrita na Educação Infantil (Brasil, 2016), nas contribuições da teoria histórico-cultural de Vigotski e na perspectiva dialógica de Bakhtin. O conceito de Desenvolvimento Profissional Docente fundamentou-se em Freire (1997, 2015); Diniz-Pereira (2009, 2010); Marcelo, (2009) e a reflexão acerca da constituição da identidade de professoras da Educação Infantil (Oliveira-Formosinho, 2002; 2016; Cruz, 2017) foram conceitos basilares para os processos investigativos. As análises das narrativas das cursistas revelaram que o curso LEEI, edição 2021/2022, foi significativo para a maioria delas, principalmente por ter colaborado com a mudança na forma como as professoras enxergavam as crianças e a Educação Infantil. Consideramos que essa reverberação foi a mais importante, pois ao reconhecer as crianças, concebidas como sujeitos de direitos e seres em constante desenvolvimento. A perspectiva do direito das crianças à cultura escrita favoreceu a construção de estratégias de mediação e de observação mais atenta das interações das crianças. Como Recurso Educativo, foi construído um material voltado para formação de professoras da Educação Infantil, no formato de um caderno virtual contendo percepções das professoras entrevistadas acerca da experiência com o LEEI, relatos de práticas sociais de leitura e escrita realizadas por elas, consideradas coerentes com as concepções do curso e da realidade da EMEI. Além de contar com sugestões para ampliação de repertório de literatura oral.